Dom
Walmor Oliveira de Azevedo*
BELO HORIZONTE, sexta-feira, 06 de julho de 2012 (ZENIT.org)
- O Censo Demográfico 2010, apresentado pelo IBGE, está merecendo
uma especial consideração no que diz respeito ao cenário religioso da sociedade
brasileira. Contudo, esse interesse, obviamente, não pode apenas ser em função
do conjunto da dança de números: a constatação de declínio na declaração de
crença quanto ao catolicismo, o crescimento daqueles que dizem não ter
religião, ou, ainda, a consideração do crescimento evangélico, fruto do viés
pentecostal.
Esse cenário de diversificação há de produzir
leituras e interpretações em algumas direções essenciais. Uma delas refere-se à
configuração e aos funcionamentos institucionais das diferentes confissões religiosas.
É importante avaliar o sentido de pertença e a mobilidade religiosa que atinge
o interior de cada confissão, refletir sobre a capacidade de agregar e formar
pessoas, nas diferentes etapas da vida. Também é essencial analisar e
compreender a importância de cada instituição na configuração de uma sociedade
melhor, na formação de uma consciência cidadã.
O compromisso com uma conduta pessoal, social e política, que sustente e promova uma sociedade mais ancorada na justiça e na solidariedade é central na avaliação da fé cristã e de sua autenticidade.
O compromisso com uma conduta pessoal, social e política, que sustente e promova uma sociedade mais ancorada na justiça e na solidariedade é central na avaliação da fé cristã e de sua autenticidade.
As estatísticas são de grande importância para
análises e interpretações qualitativas capazes de contribuir para que a
vivência na confissão religiosa configure uma mudança na vida pessoal, social e
política, estimulando um entendimento mais adequado da significação da fé em
Deus. Em questão, por exemplo, está um entendimento equivocado da fé cristã,
até com força de atração por despertar interesses imediatos, como é o caso da
compreensão de Deus como um sujeito de barganha ou um milagreiro. Nesse caso,
um milagreiro que está à disposição e à mercê do que se entende, erroneamente,
como vivência da fé. Um grave equívoco que leva ao absurdo de interligar oferta
em dinheiro e a condição para se receber o milagre esperado. Trata-se de um
viés situado na chamada teologia da prosperidade que, lamentavelmente, leva a
explorações e a verdadeiros desvios, usufruindo das necessidades prementes de
saúde e de sucesso.
Essa compreensão sustenta explicações também
inadequadas, como a de que alguém não conseguiu um milagre ou uma benção por
ser fraco na fé, entendendo a fé como uma força que tem sua fonte na própria
pessoa, em detrimento do intocável sentido de obediência à vontade de Deus.
Esse é apenas um exemplo para sublinhar que o Censo com suas pertinentes
estatísticas deve instigar um processo interpretativo e de avaliação quanto ao
papel da confissão religiosa na vida das pessoas e no tecido da sociedade, sem
que se possa dispensá-la de sua importante contribuição sociocultural. Nesse
horizonte, a Conferência Nacional doa Bispos do Brasil (CNBB), no dia em que o
IBGE divulgou o Censo 2010, apresentou resultados de um estudo produzido pelo
Centro de Estatísticas Religiosas e Investigação Social (CERIS) - entidade
brasileira de pesquisa religiosa fundada pela própria CNBB. Esse trabalho
mostra que a Igreja Católica não apenas continua majoritária na sociedade
brasileira, reunindo 64,6% da população, como também cresceu vertiginosamente
em número de paróquias e dioceses, vocações, na efervescência de novos
movimentos eclesiais e nos investimentos na rede de comunidades. Nessa mesma
perspectiva de reflexão e avaliação qualitativa, a partir dos números, a
Arquidiocese de Belo Horizonte, considerando as Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil, a convocação para pensar e agir no
horizonte de uma Nova Evangelização, está vivendo o processo da sua IV
Assembleia do Povo de Deus. É hora de avaliar, rever e ousar, por uma escuta
qualificada, pelo compromisso de consolidar a tarefa insubstituível que a
Igreja Católica tem no tecido cultural e sociopolítico, na alegria de anunciar
o Evangelho do Reino.
* Dom Walmor Oliveira de Azevedo é Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte
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