domingo, 22 de julho de 2012

O PEDIDO DE PERDÃO DE JOÃO PAULO II FOI UMA ÓTIMA INTUIÇÃO


Entrevista com o cardeal Georges Cottier, testemunha do Vaticano II (parte 3)

Por José Antonio Varela

ROMA, quinta-feira, 19 de julho de 2012(ZENIT.org) - Nesta parte da entrevista o cardeal Cottier continua a falar dos frutos do espírito do Concílio Vaticano II e  dos caminhos abetos à humanidade para a  paz e a fraternidade.

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O senhor considera que os católicos, depois desse pedido de perdão, passaram a ver a igreja de uma perspectiva diferente?
Cardeal Cottier: Eu acho que aqueles que queriam, sim. Quando discutimos o programa dessas coisas, havia um padre dominicano, um historiador, que ensinava história da Igreja, que disse o seguinte: "Pede-se perdão por fatos verdadeiros, não por mitos". Mas eu acredito que tudo foi muito bem estudado e o resultado é que, depois, muitos outros continuaram trabalhando nesta direção. Isso testemunha, então, que nós prestamos um serviço. E para mim, para os cristãos e católicos, esta perspectiva é muito libertadora.

O mundo reconheceu esse perdão?
Cardeal Cottier: O mundo, talvez não o suficiente. O problema que me interessa hoje, pessoalmente, e que pode ser parecido no âmbito político, é resolver alguns problemas trágicos, de hostilidade, de ódio entre os povos, que, sem o perdão, não têm saída. Se existe ódio mútuo, fica aquele espírito de guerra, e a paz não é realizável. Nós dizemos isto na Doutrina Social da Igreja.

Mesmo nas guerras atuais, sendo que algumas têm caráter precisamente religioso?
Cardeal Cottier:Em todas. Vamos pegar, por exemplo, a situação dramática do Oriente Médio, em alguns países muçulmanos, como o Iraque, a Síria, onde existem tantas minorias que se matam e os cristãos são as verdadeiras vítimas disso. Pedimos perdão antes de tudo a Deus, e depois aos outros. Por isso, a ideia de João Paulo II, que Bento XVI continuou no grande encontro de Assis, é que, se existe algum fundo religioso genuíno no homem, a sua relação com Deus não leva à guerra, mas à paz.

Então alguns não entenderam o ponto de vista do papa em Assis ...

Cardeal Cottier: É verdade, esse encontro foi muito criticado, mas João Paulo II fez uma diferenciação que eu gostava muito: que "o ecumenismo é com os cristãos, nós é que rezamos juntos, porque temos a bíblia em comum e podemos rezar o pai-nosso e todas as orações cristãs". E ele disse também: "rezamos juntos com os cristãos; com os outros, estamos juntos para rezar". É uma distinção que esclarece bem e que evita a confusão, que nos deixa ver a força do sentido de Deus e da postura religiosa, que poderia ser, e deveria ser, um elemento de paz na humanidade. Estes são os frutos que devemos a João Paulo II e, eu diria, ao Ano Santo.

O senhor viu alguma diferença entre o encontro de Assis de 1986 e o do ano passado?
Cardeal Cottier: Acho que sim. No sentido de que o primeiro encontro de Assis foi um evento extraordinário, mas, como sempre acontece na segunda vez, estas coisas não são mais um evento no mundo de hoje. Foi, acima de tudo, um esclarecimento por parte da Igreja católica, um convite ao diálogo, que é um fator muito importante, porque no fundamentalismo muçulmano, por exemplo, não existem pessoas que dialogam, mas pessoas que matam. E para onde nos leva tudo isso? A novidade de Assis, no ano passado, é que também foram convidados os não crentes, ou, como se diz na linguagem do papa João Paulo II, "homens de boa vontade". Eu acho que esta foi uma ótima ideia, um fruto do espírito do Vaticano II.
Conversamos sobre o perdão público que o beato João Paulo II quis pedir. Na sua opinião, o que a humanidade está fazendo hoje e a quem ela vai pedir perdão amanhã?

Cardeal Cottier: Temos todo o problema da banalização do aborto, e também a abertura de algumas práticas sem respeito pelo embrião humano. Estas são, para mim, as maiores culpas que corremos o risco de pagar.

Agora existe a possibilidade de ver o sexo do bebê no útero da mãe: em alguns países, eles preferem o menino e descartam a menina, e então acontece um sério desequilíbrio demográfico. A permissividade nas questões sexuais, eu diria, também pode ser considerada uma ofensa contra a pessoa, especialmente contra a mulher e as crianças.

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